quarta-feira, 3 de março de 2010

A Vida Vivida.

Quem sou eu senão um grande sonho obscuro em face do Sonho, senão uma grande angústia
obscura em face da Angústia. Quem sou eu senão a imponderável árvore dentro da noite imóvel. E cujas presas remontam ao mais triste fundo da terra?

De que venho senão da eterna caminhada de uma sombra, que se destrói à presença das fortes claridades, mas em cujo rastro indelével repousa a face do mistério e cuja forma é prodigiosa treva informe?

Que destino é o meu senão o de assistir ao meu Destino. Rio que sou em busca do mar que me apavora, alma que sou clamando o desfalecimento, carne que sou no âmago inútil da prece?

O que é a mulher em mim senão o Túmulo. O branco marco da minha rota peregrina. Aquela em cujos braços vou caminhando para a morte, mas em cujos braços somente tenho vida?

O que é o meu amor, ai de mim! senão a luz impossível, senão a estrela parada num oceano de melancolia. O que me diz ele senão que é vã toda a palavra. Que não repousa no seio trágico do abismo?

O que é o meu Amor? senão o meu desejo iluminado. O meu infinito desejo de ser o que sou acima de mim mesmo. O meu eterno partir da minha vontade enorme de ficar peregrino, peregrino de um instante, peregrino de todos os instantes?

A quem respondo senão a ecos, a soluços, a lamentos. De vozes que morrem no fundo do meu prazer ou do meu tédio, a quem falo senão a multidões de símbolos errantes cuja tragédia efêmera nenhum espírito imagina?

Qual é o meu ideal senão fazer do céu poderoso a Língua, da nuvem a Palavra imortal cheia de segredo e do fundo do inferno delirantemente proclamá-los em Poesia que se derrame como sol ou como chuva?

O que é o meu ideal senão o Supremo Impossível aquele que é, só ele, o meu cuidado e o meu anelo o que é ele em mim senão o meu desejo de encontrá-lo e o encontrando, o meu medo de não o reconhecer?

O que sou eu senão ele, o Deus em sofrimento e o temor imperceptível na voz portentosa do vento. O bater invisível de um coração no descampado...
O que sou eu senão Eu Mesmo em face de mim?

Rio de Janeiro, 1938.


10 comentários:

  1. amei muito o texto e o blog !
    Parabéns!
    http://tattitruths.blogspot.com/
    beijos

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  2. 'Aquela em cujos braços vou caminhando para a morte, mas em cujos braços somente tenho vida?'

    ><

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  3. Texto legal.
    Me lembra letras de uma banda que eu gosto! Gostei daqui


    www.futebobeiras.com.br

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  4. Sim vou te seguir, pq não gosto de blogs e texto fúteis e está mais do que na cara que o seu não é, vou ler com atenção e cuidado tudo com mais calma depois.
    Alias, está aí o dia Da Mulher, que tal fazermos um texto sobre isso?
    Gde beijo. Mah

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  5. Simplesmente lindo!
    Vou vir aqui sempre ok?
    Lindo blog
    Quem sabe eu num tento fazer um texto sobre ballet?
    kkkkk

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  6. muito bom o texto ! parabéns pelo blog ' :D
    estou seguindo :D:D:D

    segue o meu ?
    http://ludlordelo.blogspot.com/

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  7. Muito legal seu blog, gostei mesmo, estou seguido-te ;0

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  8. Linda, adoro teu blog também, o texto é lindo, parabéns *-*

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  9. Perfeito o texto!Minha primeira vez no seu blog e espero podr voltar...

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